terça-feira, 30 de junho de 2015

Itatiaia - Relato de Andressa Coelho - 26/06/2015

A experiência em Itatiaia foi gratificante.
O encontro com o turno da manhã foi alegre, no sentido de haver intensa participação dos professores, de sentir empolgação nos relatos. Creio que toda relação tenha sua fase de habituação até que avance para uma conexão que apresente mais comodidade, onde a liberdade construída permita que certas discussões sejam propostas, que todos os argumentos sejam pontuados. Na minha passagem por Itatiaia eu senti que talvez o curso tenha atingido essa fase, onde a grande maioria dos professores dos dois turnos demonstraram desinibição na comunicação com a Graça. A secretária de educação do município também foi muito participativa.

No primeiro turno Graça começou perguntando sobre as percepções que tiveram do texto que deixara para discussão e a participação foi intensa.  Uma professora apresentou com orgulho o trabalho que havia aplicado em sua turma. Houve também o relato de duas professoras que construíram um projeto juntas com suas turmas de 5° ano. Era um projeto que envolvia culinária e pesquisa, no qual os alunos deveriam trazer um prato típico de algum lugar do mundo e também informações sobre esse lugar. A pesquisa se dava inteiramente por conta dos alunos, e as professoras orientavam basicamente. Achei muito interessante e simbólico quando uma delas contou que quando outra professora tomou a frente do projeto ela sentiu que não estavam sustentando o sentido daquela proposta adequadamente, que era enaltecer a autonomia dos alunos, o que eles achavam importante de recolher para expor no trabalho, que era importante fornecer material básico mas que eles mesmos idealizassem o próprio caminho.

No segundo turno os professores também estavam atentos e participativos, não tanto quanto no primeiro, mas a quantidade de pessoas do segundo era maior.
Teve o relato de uma professora que chamou minha atenção porque, além da observação ser aplicável em diversas situações, é um dado sintomático da educação brasileira. Percebi como aluna no ensino básico, no ensino médio e agora tenho a oportunidade de acompanhar isso vindo de professores de outra localidade, outro município, na minha formação enquanto licencianda. Ela contou que um de seus alunos, que não demonstrava o melhor dos desempenhos em sala de aula, aplicou um aprendizado em uma "situação real" fora de sala e obteve pleno sucesso no resultado. Essa mesma professora notou o contrário em outra aluna: a menina conseguia boas notas e correspondia às expectativas dos resultados que atendiam à aplicação do currículo institucional, mas não conseguiu resolver uma questão matemática em uma transação comercial fora da escola.
Houve também alguma discordância quanto a apontar a necessidade de abordagem de algumas coisas da gramática da língua portuguesa. A Graça questionou se, para algumas séries, era relevante tratar de certos assuntos em sala de aula, atendendo à demanda do currículo, sendo que a criança teria inúmeras oportunidades de conhecer o conceito fora da sala de aula. Alguns professores acharam necessário tratar de vários assuntos de uma disciplina sob o argumento de que uma abordagem leva à outra, ou que pode valer para reflexões posteriores. O debate é interessante.

Ambos os turnos também tiveram uma tarefa no final de cada período que era se dividir em grupos de 4 a 5 pessoas e aplicar alguns jogos/brincadeiras em sala de aula que apresentariam um modo de solucionar alguma questão de alguma área do saber. Utilização de blocos lógicos para uma operação matemática, por exemplo. Somente o turno da tarde teve tempo para apresentar três grupos; a apresentação do turno da manhã ficou para o próximo encontro.

Ficou claro que é preciso apreender certos objetos-chaves na arte de lecionar que vão orientar e dar sentido à ações educativas. Não conseguir resolver alguma questão — qualquer questão, de qualquer área do conhecimento — não implica incapacidade ou rebaixa o potencial de ninguém, visto que há várias formas de aprender e cada pessoa tem um tempo ou alguma compreensão particular sobre onde e como aplicar determinados saberes. O compartilhamento e a construção coletiva que considera o peculiar dos indivíduos apenas enriquece o profissional da educação, no sentido de proporcionar ampliação de horizontes que o levarão para além de currículos e deliberações generalizadas "de cima para baixo".

A oportunidade, a experiência, o lugar, a companhia, a recepção e as comidas, destaque para a comida da escola: tudo lindo.


Encontro da tarde


















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Encontro da manhã