terça-feira, 27 de setembro de 2016

Módulo: Memória I

Aula 4 – 01/09

          Nesse dia retornamos nossas atividades após o recesso olímpico. O módulo memória que será dividido em duas aula foi ministrado pela professora Marina Campos. A professora iniciou o encontro relembrando que a proposta de trabalho final do curso é a elaboração de um memorial. A ideia é que o módulo nos ajude a resgatar memórias, vivências e experiências que auxiliem na feitura desse material.
            Com uma crônicas de Eduardo Galeano, do Livro dos Abraços, começamos a refletir sobre a memória:
A DESMEMÓRIA
“Estou lendo um romance de Louise Erdrich. A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto. O bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor da água) e sorri com o mesmo beatífico sorriso de seu bisneto recém-nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz porque não tem, ainda, nenhuma memória. Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não a quero.” Eduardo Galeano (O Livro dos Abraços)
          A partir disso, a professora desencadeou sua apresentação sobre reflexões da memória. A respeito da tessitura da memória podemos compreendê-la como temporal, porém mesmo que se dê no passado ou no presente, sua importância não está ligada ao tempo. Às vezes temos fortes recordações de momentos antigos (muitas vezes construídos por memórias, histórias, fotos, etc.), porém pouco nos lembramos de um acontecimento da semana passada. Nossas recordações são construídas individual e coletivamente, não tendo como desassociar essa construção uma da outra, e são feitas também a partir de linguagens e narrativas.
          Quanto às memórias sobre a formação docente, parando para refletir conseguimos compreender que elas não se iniciam apenas quando começamos a nos dedicar a profissão. Não é no ensino normal, na pedagogia, na licenciatura ou na primeira aula que damos que temos nossas primeiras memórias sobre nossa formação docente. Elas são construídas por um processo constante, desde antes mesmo de sabermos que nos tornaríamos professores, estão elas presentes em aulas assistidas quando criança, em filmes, em conversas e em diversos processos vividos.
          A memória nos provoca também armadilhas, que dependendo da situação enfatizam situações boas ou não. Às vezes criamos memórias de um passado mais agradável para conviver e recuperamos bons momentos em épocas de crise. A professora Andrea Santos se reconheceu nessa situação e disse ter em sua memória que professor e professora têm três meses de férias, pois como ela tinha todo esse tempo de férias quando era aluna achava que suas professoras também teriam. Por conta disso, ainda pensa que tem todo esse tempo de férias, por mais que não seja assim de fato.
          Nossa memória é feita também através de nossas narrativas, por isso, nós somos o que contamos. Ao contarmos uma história modificamos de acordo com nossas memórias e resignificamos de acordo com nosso olhar, sendo diferente cada vez que contamos. Por isso é importante contar histórias, pois quando falamos estimulamos a memória, os momentos e os reavaliamos, fazendo com que a próxima vez que formos contar seja diferente. Ao contarmos uma história para outra pessoa essa história passa a ser dela também e ela contará de uma forma totalmente diferente, porque carregará seus olhar, suas experiências e seus significados. Por isso, as memórias muitas vezes contestam as histórias oficiais. Para contarmos uma história passamos por um processo de reformação e autoformação da mesma, pois organizamos as ideias. Ouvi-las também gera outra formação do momento real, quando ouvimos uma história criamos uma memória diferente do que talvez realmente de fato ocorreu. Contar histórias evoca passados, pessoas, vivências e experiências.
          O paradigma moderno definiu como válido apenas o conhecimento científico e definiu como esse saber deveria ser expresso: escrito, objetivo, neutro. O cientificismo hierarquizou os saberes, bem como as formas de sua expressão, isso acaba por subalternizar outros meios de saberes que são igualmente importantes e devem ser valorizados. As narrativas docentes, por exemplo, é um conhecimento narrativo passível de ser usado futuramente por outros sujeitos, mas que será modificado, pois é impossível contar a mesma história, porque cada um enfatiza as coisas de maior significado para si.
          Cada vez mais os professores são reconhecidos como protagonistas das mudanças das quais depende a construção de um novo tempo para o magistério, assim surge à perspectiva de formação de profissionais reflexivos e a busca pelo reconhecimento social. A valorização da escrita dos educadores ganhou mais espaço, e se é necessária à reflexão sobre a prática profissional e se escrever favorece o pensamento reflexivo, a produção de textos escritos é ferramenta valiosa na formação de todo profissional.
          Quanto à feitura do memorial, sabemos que na correria do dia a dia há grande dificuldade de paramos para elaborar um registro das nossas práticas. A professora Andrea acredita que os professores estão afastados da prática da escrita, a professora Ilma acrescentou que os professores trabalham com muita cobrança da escola, tendo tanta demanda que não há tempo para escrever sobre suas práticas. Se autoavaliar é produzir, reavaliar e criar significados que não tinham sido avaliados. É necessário exercitar a prática da escrita, pois é assim que ela se aprimora que quebramos o bloqueio.“É na hora de escrever que fico consciente das coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia.” C. Lispector
          Reconhecemos o desafio da escrita, que só pode ser desmistificado através da prática. Converter conversas cotidianas – sobre o que pensamos e sentimos em relação ao que vivemos, aprendemos e fazemos – em conteúdo de um tipo de texto privilegiado para essa finalidade: o memorial de formação.
MEMORIAL:
- Escrita de acontecimentos memoráveis (não necessariamente incrível e grandioso, às vezes não é algo que vem instantâneo e temos que pensar muito para lembrar);
- Ao recordar passamos a refletir sobre como compreendemos nossa própria história;
- A memória é uma crítica que avalia nossas ações, ideias e impressões;
- É uma confissão, que apresenta paixões, emoções e sentimentos;
- Registra um processo, uma travessia, uma lembrança refletida de acontecimentos que somos protagonistas;
- O memorial relaciona experiência da vida pessoal com a vida profissional;
- Escrevê-lo nos faz tomar consciência do quanto sabemos e nem sabemos que sabemos;
          Após a discussão sobre a elaboração do memorial foi aberto um momento para os professores e professoras trazerem memórias de vivências que correspondessem a sua formação docente. Seja em sala de aula como aluno ou professor, seja contando história de amigos ou sobre livros já lidos. 
          A professora Andrea logo lembrou do filme “O brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Contou-nos que no filme uma parte do cérebro de um personagem é desativada para que ele não lembrasse da ex mulher, e assim fizemos um link com o trecho lido do Eduardo Galeano. O personagem conseguiu o que queria, desativar as memórias dolorosas e negativas sobre a ex mulher, porém assim perdeu as memórias boas e agradáveis também.
            A professora Adriana enfatizou a necessidade de revisitar aquilo que já construímos através da ativação da memória, de recriarmos na nossa cabeça momento que já vivemos.
          A professora Inês diz já ter feitos muitos memoriais ao longo de sua formação docente e acredita que a feitura do memorial é para si própria, não para o outro. Ela escreve coisas que só para ela terá tanto significado, para ela mesma recordar. Como a fala de um aluno de Duque de Caxias que disse que queria que as Olimpíadas fossem aqui no Brasil, aqui na Terra, visto que para ele, mesmo os jogos tendo sido realizados tão próximo ainda era uma realidade muito distante. 
        A professora Gisele nos contou que realizou com seus alunos uma espécie de portfólio que chamavam de “Livro da Vida” com as atividades realizadas pelas crianças ao longo do ano. Disse que sentiu o quanto foi importante para eles, pois eles resgataram suas próprias memórias nesse processo.

Por Isabela Travassos



quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Módulo: Currículo

Aula 3 - 28 de julho

Acompanho o curso “Conversas sobre práticas nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental” desde 2014. Já presenciei muitos relatos ricos de experiência e conhecimento que me fizeram voltar para casa pensativa. E, em especial nessa aula, não foi diferente, mesmo tendo um número pequeno de presentes. Acredito que o Currículo despertou ainda mais isso, já que nas edições anteriores não fomos contemplados com esse tema.

  Estamos com um grupo de cursistas muito participativo e entrosado no âmbito político da educação. Com questões importantes a todo vapor em nossa atualidade, esse módulo foi repleto de argumentos e opiniões que, afirmam a todo instante, a necessidade de discutir sobre isso. E, assim, fico feliz por ter tido essa oportunidade e, melhor que isso, fazer parte do grupo que promove essa possibilidade.

 Graça Reis inicialmente comentou sobre a importância dos cotidianos como forma de construção de conhecimento, os quais apresentam múltiplos “espaçostempos” (escola, grupo de amigos, família) que garantem uma circularidade desse conhecimento, já que aprendemos e ensinamos diariamente, de diferentes formas. E, utilizando os estudos de Boaventura de Souza Santos, nenhum conhecimento é mais importante que o outro.

Porém, não necessariamente isso acontece de fato já que, nós educadores que estamos diariamente dentro das escolas, sabemos que nesses espaços há sim critérios de seleção para justificar a presença de certos conhecimentos nas propostas curriculares em detrimento de outros que ficam de fora, como a Graça colocou em seus slides. É a Matemática que é mais fundamental que Artes. É o Português que as crianças e jovens devem aprender melhor do que Sociologia...

Graça nos leva a refletir sobre o conhecimento em geral, mostrando através de seus estudos que todo conhecimento é válido e que a tessitura cotidiana de conhecimentos em rede nos mostra que  TUDO é currículo. 

Assim, de acordo com ela,  "todas as ações desenvolvidas pelos sujeitos das escolas são parte de sua crença sobre os currículos". Desde a arrumação das carteiras até relação dos conteúdos curriculares e como eles servem para a vida real, levando em consideração que as crianças são sujeitos de direitos e cidadãos em nossa sociedade. 


Por Letícia Souza