O texto
lido nos traz a complexidade da educação e a visão das redes de fazeressaberes, colocando os praticantes
dessas redes em posição tão importante quanto os teóricos que dela falam ou
podem contribuir para tal. O autor denomina como autores sujeitos anônimos do cotidiano esses atores da educação, o
que não se restringe aos educadores, educandos ou participantes diretos do
cotidiano da escola, mas se estende a todos aqueles que de algum modo
influenciam nas práticas realizadas nos espaços escolares – neste caso, escolas
públicas.
Primeiramente,
o autor nos traz as contribuições teóricas que podem nortear a pesquisa em
questão e que tentam entender – visto que para o autor explicar é reduzir a
complexidade à lógica e ao limite de quem explica – o significado das “performances, negociações, traduções e
mímicas” (grifos do autor) produzidas nos cotidianos.
Para o
autor:
[...] De
fato, estamos defendendo que somente com
o cotidiano (Ferraço, 2003) das instituições educacionais é possível
encontrar indícios (Ginsburg,1989)
que nos ajudem a sustentar a ideia de complexidade da educação, nos permitindo
questionar se existe algo objetivo que possa ser chamado de currículo ou
formação continuada.
e, acredito que essa ideia se
aplica diretamente ao modelo que desenvolvemos no grupo de pesquisa ConPAS, já
que nos encontros oferecidos pelo grupo – tanto em Itatiaia, quanto no CAP para
cursistxs ou bolsistas – o que pretende-se é compartilhar com os autores do cotidiano para que através da
troca entre seus saberesfazeres se
construam novas redes de conhecimento sem tentar resolver problemas pontuais,
ou individuas de cada instituição. Procura-se demonstrar que a educação é
complexa e não há “fórmula mágica” para se resolver seus problemas, mas que
através do compartilhamento de experiências podemos refletir sobre nossas
próprias práticas e reformulá-las.
Sobre
citar, o autor nos demonstra que esse recurso produz mais credibilidade ao que
se está sendo dito, corrobora na prática – com os autores do cotidiano – ou na
teoria os itens problematizados na pesquisa em questão.
O que me
chama atenção ao observar os relatos de discentes e docentes é o fato de nos
identificarmos ou recusarmos certas atitudes, comportamentos ou pensamentos
dentre os mencionados. Como o autor bem destaca “trazer a cena dos debates
esses fragmentos não [é] com intenção de qualificá-los, mas com o objetivo de
problematizá-los em meio a nossa discussão de currículo e formação continuada.”
E, pensando currículo através dos fragmentos elencados no texto, percebemos que
a discussão sobre o tema é inesgotável e controversa, visto que cada indivíduo
tem o olhar sobre o seu saberfazer e
está pondo no centro a sua experiência cotidiana.
Apesar de
complexo, o texto lido acrescenta-me a ideia de todo e individual. Isto é,
muitas vezes como pesquisadores temos que pôr de lado o individual para
entender o todo e, em outras tantas vezes, precisamos observar com uma lupa o
que é singular naquele relato para melhor entender o que está para além dele.
De fato,
interagir com a complexidade do cotidiano escolar, mergulhar em suas redes,
partilhar do miudinho dos fazeressaberes
dos sujeitos que lá estão nos leva a assumir a dimensão inesgotável da
complexidade da educação, e por consequência, assumir a nossa impossibilidade,
o nosso limite em buscar assegurar obediência a sentidos preestabelecidos [...]
[...]
Nesse
sentido, as redes de fazeressaberes
dos sujeitos de nossas pesquisas nos têm ajudado a inferir que, por mais
idealistas e utópicos que possamos ser, por mais que acreditemos em um futuro
promissor para a educação não há qualquer possibilidade de uma projeção
consensual, de um ideal comum a ser alcançado com a mesma intensidade e vontade
por todos. As redes tecidas pelos sujeitos se desdobram em múltiplas direções,
entrelaçando diferentes interesses, expectativas, desejos e necessidades.
Assim, o final feliz para a educação, por vezes propagados em discursos e
textos, fica em suspense.
Aproprio-me
das palavras acima para encerrar a reflexão a cerca do texto, prefiro citá-las,
pois resumem exatamente o que sinto neste ponto de minha (eterna) formação: os
atores da educação são indivíduos heterogêneos e com pontos de vista diversos
sobre o mesmo tema e, talvez, “final feliz” não seja o caminho correto, mas
problematizar como e porquê necessitamos dele seja o inicio de uma mudança que
integre os autores do cotidiano ao
pensamento sobre currículos e formação inicial e continuada.
Resenhado por Thais Lima