terça-feira, 2 de agosto de 2016

Módulo: Trabalho e Formação Docente

Aula 2 - 21 de julho

         O módulo Trabalho e Formação Docente foi ministrado pela professora Renata Flores. O encontro começou com a seguinte reflexão: "O que é ser professor a partir da fala das pessoas com quem convivemos ou encontramos no dia a dia?"  Para trabalhar esse assunto, Renata propôs uma atividade. A turma foi dividida em quatro grupos, cada grupo assistiu a um vídeo (cada grupo com vídeos diferentes) e ao final, cada grupo colocaria sua interpretação acerca do assunto de cada vídeo.

O primeiro grupo ficou com uma propaganda que fala sobre a valorização do professor. Esse vídeo é uma produção institucional promovida pelo movimento Todos pela Educação e fala que o condutor de todo conhecimento e conquista é o “bom professor". Para o grupo, o vídeo superdimensiona o professor colocando-o como o responsável por toda a transmissão de conhecimento e por todas as conquistas dos alunos. É ele quem faz tudo e depende dele fazer tudo para o aluno. Um ponto bem importante que entrou no debate foi a expressão, “bom professor”, utilizada no vídeo que enfatiza a qualidade necessária ao professor para ser o transmissor de todo esse conhecimento. Ou seja, além de ter a responsabilidade de ser um transmissor de conhecimento, uma fonte de sabedoria e conduzir o aluno à conquista ele precisar ser bom, e ser “bom professor”.

O segundo grupo ficou com a propaganda “Professores Olímpicos”, do Ministério da Educação. O vídeo compara o professor a um treinador e pede o respeito nas salas de aula. O grupo questionou essa comparação que é um ponto muito importante do vídeo. Podemos comparar o professor com um treinador? Ambos exercem a mesma função? Para o grupo, o vídeo coloca a escola como um centro de treinamento, sendo dela a função de treinar pessoas para serem campeões. Sabemos que em toda competição sempre há um único vencedor, ou seja, numa escola não haveriam campeões e sim, um único campeão. Dessa forma, a propaganda descontrói totalmente o papel e a função do professor e a representação da escola para o aluno.

O vídeo do terceiro grupo foi uma entrevista feita com diversas pessoas de diferentes nacionalidades onde a pergunta feita era: “Quem é o responsável pelo desenvolvimento do país? ”. Todos os entrevistados respondem que essa responsabilidade é do professor. Mais uma vez temos o professor como a base de todo sucesso e vitória de seus alunos. O grupo levanta dois questionamentos: Quais recursos esses países oferecem que não oferecem aqui? E, por que o Brasil é falho? O grupo coloca ainda que somos uma nação que inferioriza muito nossos valores e profissionais, pois sempre achamos que tudo o que está ou vem do exterior é melhor do que é produzido/feito aqui. Essa falta de valorização do professor, ou de outros profissionais, no país, seja financeiramente ou tornando-os incapazes de exercerem suas respectivas funções, faz ser injusta a comparação com essas realidades que são tão distintas.

            O quarto e último grupo ficou com uma reportagem de um telejornal onde o assunto era profissionais da educação que exerciam a profissão sem o diploma. O vídeo fala ainda sobre a reciclagem de professores como um método de capacitação, atualização do professor. O grupo aponta a generalização dos professores feita pelo repórter que apresenta dados informando que a ineficiência de outros profissionais é causada pelo professor, pois essa “carência” de conhecimento começa no Ensino Fundamental, segundo a OAB. 

Todos os vídeos ampliam exageradamente a função do professor e com essas questões e posições debatidas, a professora começa a explicar o porquê desse tema. Renata fala que o tema nasce para ela a partir de uma situação vivida por ela quando passou no concurso do CAp-UFRJ. Renata trabalhava a bastante tempo em uma escola da rede pública e pouco antes do concurso começou a exercer a função de coordenadora da escola. Quando ocorre a sua aprovação, ela comenta sobre sua aprovação e uma de suas colegas de trabalho faz a seguinte pergunta: “Mas você vai voltar para sala de aula? ”

Diante dessa situação que lhe causou um grande estranhamente, Renata começa a pensar sobre que acepção revela essa fala. O que é estar na sala de aula? O lugar de trabalho do professor é dentro da sala de aula, então por que o pronunciamento de um cargo como professora de uma escola causa tanto espanto ? Renata mostra que, de fato, para muitos professores a ascensão da carreira é sair da sala de aula, ou seja, trabalhar como coordenador ou diretor, pois só assim tem-se a ideia de que um professor será bem-sucedido. O problemático disso é que “ser coordenador ou diretor” não deveria ser um cargo confortável, já que não condiz com “ser professor”.

Em seguida, Renata levanta a questão de que a carreira é quem estrutura a profissão docente, mas qual carreira? Que tipo de condição os professores vivem para exercer tal carreira? Alguns fatores como: profissionais que tem a necessidade de trabalhar em duas ou mais escolas, realização de atividades inerentes ao trabalho que não são contadas como carga horária, desvalorização salarial, falta de material para trabalhar com os alunos, desmotivam e não contribuem para a valorização dessa carreira. Muitas vezes os professores se deparam com fundações e empresas que produzem material e até planejamentos, deixando-os presos a esse produto, sem autonomia para exercerem sua função.


Devemos, portanto, ser multiplicadores de reflexões que não estimulem essas ideias. Por mais que ter um planejamento pronto e materiais fornecidos sejam um facilitador, a repercussão que essa facilidade traz é de que o professor é fraco e até ineficiente, o que não é verdade. Por fim, Renata acrescenta que essa desvalorização não é só comum no meio externo, mas também dentro da formação docente. Muitos professores desvalorizam tanto sua carreira como profissão. Como tais profissionais, não se pode absorver esses tipos de posicionamentos para que não sejam refletidos no trabalho. A valorização deve começar por cada professor.

Por Larissa França