quinta-feira, 28 de maio de 2015

Itatiaia - Relato de Thais Lima - 22/05/2015

     Itatiaia, Penedo. É nesta cidade que realiza-se o ConPAS fora das paredes da academia, na verdade acredito que esta é a parte mais importante da formação de professores: o fora da academia. E estamos no nosso terceiro encontro com os professorxs de quarto e quinto anos da Rede pública de ensino.
       O encontro mudou de lugar, agora estamos numa escola em que podemos fazer a arrumação das cadeiras de maneira mais livre, neste encontro ficamos em círculo para uma melhor interação entre todos os participantes. A representante da secretaria de educação estava presente tanto nos encontros da manhã quanto da tarde, mas foi bem participativa e acrescentou relatos importantes do seu ponto de vista. Acredito que ela está ali muito mais como participante do que como instrumento de poder.
      “Hoje” a Graça falou sobre projetos. E é um privilégio fazer parte da formação de professorxs quando está se estudando para ser uma, assim como os cursistas acredito ser altamente produtivo para nós, bolsistas, o acompanhamento dos encontros. Mesmo filmando e me preocupando mais em registrar os momentos do que em perceber o que de verdade e inovação há em cada relato, consigo entender e sentir o amor de cada professor pelos seus alunos, sair das paredes do que conhecemos como realidade é muito importante para o crescimento profissional.
          No encontro posterior a esse a professora convidada, Lúcia Fernanda, trouxe para o grupo a realidade da contação de histórias integrada as aulas e propôs aos docentes que realizassem atividades com suas turmas e a trouxessem no próximo encontro, no caso este, para partilhar com o grupo. Nos dois encontros, manhã e tarde, vimos que muitos abraçaram a proposta e a fizeram com seus alunos.
        No encontro da manhã, tivemos dois relatos que me chamaram mais atenção. Uma dupla de professoras refez a caixa de sombras com seus alunos e deixaram que eles recontassem a história através das sombras, assim eles se depararam com conteúdos muito importantes como trabalho em grupo, divisão de tarefas, respeito ao próximo – pois cada um deveria falar na sua vez. Outro grupo, de quatro professoras, trabalhou um conto da África e explorou questões raciais, mas não só, trabalhou que a África é muito além do que o senso comum entende, o conto também explorava questões ambientais como a falta d’agua e isto foi explorado com os alunos, ou seja, entendemos que a partir de um texto podemos percorrer vários temas.
          À tarde, tivemos relatos também interessantes. Uma das professoras também refez a caixa de sombras com seus alunos com a participação dos mesmos, outra transformou a ideia em uma caixa cenário e explorou um conto japonês, inserindo em sua aula culturas diversas. Entretanto, o relato que mais me chamou a atenção, apesar de simples, foi a de uma professora que está lendo com seus alunos As Crônicas de Nárnia, um livro teoricamente para adultos, mas isso não impediu que ela trabalhasse as histórias, comparassem com os filmes, utilizasse para enriquecer o vocabulário de seus alunos devido à quantidade de palavras que eles não estão acostumados a encontrar.


         Finalizo este relato, rememorando as situações vividas nesta experiência gratificante e espero poder retornar a ver esse professorxs que nos revelam que acreditam em seus alunos e estão dispostos a contribuir para a transformação da realidade de cada um deles. Estar em formação e ter o privilégio de participar dos encontros do ConPAS, em Itatiaia ou no CAP, só tem acrescentado cada dia para minha visão do que é ser professora. E continuamos na luta...

Encontro da manhã

Cursistas do turno da manhã.

 

Encontro da tarde


Cursistas do turno da tarde.







Itatiaia - Relato de Maria Holanda Ferreira - 27/03/2015


Qual é a história do seu nome? Você já parou para pensar o porquê seus pais lhe deram este nome? Porque todo mundo tem uma história para contar...
Foi primeira atividade proposta pela professora Lucia Fernanda “a professora que conta história” convidada para este segundo encontro com as professoras e os professores do município de Itatiaia. Após ler A semente que veio da África (Heloisa Pires Lima), a professora convidou os participantes a contar a sua própria história.
Luz, Luciana. Árvore, nascimento, vida, Vânia. Rosa, Rosane. Renata, renascer, renascida: o Sol. A maça, o desejo, uma gravidez desejada: Michelle... Helenice. Helena: rainha, Helenice: pequena rainha...  “Não é você que escolhe a história, é a história que te escolhe.”
Mas a Lucia escolheu uma saia e uma história. E depois de contar a sua própria história ela contou a história da menina dos cabelos de fios de ouro, um conto popular retirado de um livro do Câmara Cascudo e que já percorreu a Europa, América Central até chegar ao Brasil. Um conto que se modifica por onde passa, incorporando novos elementos e se transformando através da linguagem contada/narrada.
Logo lembrei da Benedita, a babá. Era uma índia paraense que cuidava dos filhos de minha avó. Mamãe confessou outro dia que até hoje tem pesadelos com as histórias que a Benedita contava. Lembrei disso porque tinha uma história da menina enterrada viva no quintal pela madrasta. Seus cabelos cresciam por debaixo e por cima da terra feito raiz de árvore...
A saia entrou na história da Lúcia e permaneceu em cena, virou personagem e serviu de roupagem para entrar em cena outros personagens desta história que são os professores e as professoras de Itatiaia. Eis aí um momento para entrar na roda, vestir a saia, contar um canto, cantar um conto, declamar um poema ou poesia... Este momento foi de enorme inteiração e descontração entre os participantes. Todos de pé, rodando com a saia, caindo no conto e na gargalhada, havia os que soltavam o gogó. Atirei o pau no gato; batatinha quando nasce; o peito do pé do Pedro; O anel que tu me destes; Sou pequeneninha do tamanho de um botão; Sambalelê ta doente; (...) não sou feita de açúcar (...) posso vento com chuva, posso chuva com vento!
Voltando aos contos, Lucia fala da importância do estudo, da pesquisa das histórias originais antes das adaptações. Que as adaptações recebem novas linguagens, mas é  questão que merece cuidado. Não negar às crianças a história original antes da adaptação. Mais interessante, como a história da menina dos cabelos de fios de ouro que traumatizou minha mãe, é como os contos de fadas originais que contém elementos macabros e tão fascinantes que atrai todo tipo de público, inclusive infantil. Na versão original da Chapeuzinho Vermelho: o lobo que mata, come e bebe o sangue da vovozinha e da Chapeuzinho. Na Cinderela: a madrasta que faz com que as filhas cortem o calcanhar e os dedos dos pés para que possam caber no sapatinho... São histórias originais que as crianças adoram! Além disso, ao apresentar os livros e autores, a professora também incentiva os participantes a convidar as crianças a ouvir as histórias, mesmo quando, por exemplo, a linguagem pode parecer mais difícil com palavras difíceis: a importância de não subestimar as crianças, pois elas gostam das histórias, e das palavras! Conforme a Lucia apresentava os livros, falava sinopses das histórias, algumas mais e outras menos conhecidas os participantes folheavam curiosos e interessados esses livros que passavam de mão em mão: Monteiro Lobato; O Homem que Roubava Horas; Pedro Malasartes; A Panela Mágica; a Árvore que dava dinheiro; Contos populares, Cordel e etc.
A Maior Flor do Mundo, de José Saramago foi passada em filme.
Por fim, a professora Lucia mostrou seus vários objetos que a ajudam a contar histórias. Mostrou com a mesma empolgação que nos mostrou na pousada assim que chegamos em Penedo, onde ficamos hospedadas. Aquelas duas malas que ela carregava e que estavam carregadas de histórias que ela ia tirando da sacola: a saia; a menina dos cabelos de fios de ouro; os vários livros; o sapo, o gato, o apito, a caixa de sapato forrada de chita que vira tela de cinema...
Tantas histórias que presenciei neste dia, que tive o privilégio junto aos participantes deste encontro em Itatiaia, somado a receptividade da Virgínia que nos recebeu tão bem, somado à escola toda linda, a diretora da escola e, diga-se de passagem, à comida da escola tão simples e tão refinada que é o segredo da simplicidade mais, sobretudo, da receptividade das pessoas, do lugar e dos participantes deste curso. Ter conhecido a professora Lucia me garantiu uma aula! Além de boas risadas nesta viagem. Mas me fez lembrar também de minha falecida avó paterna D. Flora, que foi professora primária. Quando já no final da vida, com Alzheimer, permanecia num humor invejável sempre contando histórias... E contava de formas tão incrivelmente criativas que era capaz de repetir a mesma história inúmeras vezes de formas tão diferentes que ainda custávamos alguns segundos a reconhecer que era exatamente a mesma história que ela recontava.
Era filha de italianos imigrantes, adorava cozinhar e tinha um filho (meu pai) que a certa altura da vida entrou na macrobiótica. Fez este poema para minha irmã Ana:
“Com uma florzinha na mão
e a cestinha cheia de amoras
a Ana vai toda feliz
visitar a vovó Flora
A vovó Flora 
que mora
lá no sítio do Embu
quando viu chegar a Ana
correu afogar chuchu
Ela gosta de chuchu
misturado ao arroz feijão
mas limpa o prato de verdade
é quando eu faço macarrão
Porém macarrão, massas e doces
só vou fazer no Natal
pois seu pai é a favor
da comida natural
Ele não quer latarias
massas, doces, nem pão 
Por isso, o cardápio das férias
será abobrinha, arroz e feijão!"

Itatiaia - Relato de Franco Biondo - 13/03/2015


     Chegamos a Itatiaia no final da tarde do dia 12 de março de 2015, uma quinta-feira. Fomos recebidos pela administradora da pousada aonde iríamos nos hospedar e, após alguns minutos para nos organizarmos nas instalações, fomos jantar em Penedo com a coordenadora na Secretaria de Educação de Itatiaia, Virgínia, e seu esposo. Foi uma noite prazerosa, pois pudemos conversar sobre assuntos diversos relacionados à Educação num restaurante bastante agradável.
     O dia seguinte seria o dia do trabalho, então acordamos cedo e organizamos tudo para que fôssemos levados para a escola com alguma antecedência. Chegando lá, fomos recebidos por alguns trabalhadores do local e também pela Virgínia, que havia chegado mais cedo. Fomos encaminhados para um auditório, onde a estrutura do encontro já havia sido montada. Enquanto a Graça ia se organizando na mesa da frente, eu me organizava com as câmeras para a filmagem.
     Após esperar os professores chegarem e se acomodarem, iniciamos então as atividades desse primeiro encontro. Distribuímos um caderno para cada professor, que deveria ser utilizado para a escritura de textos referentes aos encontros. Graça se apresentou e falou sobre o projeto, abordando diferentes conceitos, como formação inicial, formação continuada e a construção de diferentes saberes. Os professores interviram algumas vezes, essencialmente para fornecer exemplos reais de suas vidas profissionais para corroborar o que estava sendo discutido. A atmosfera de diálogo teve, então, uma semente inicial já plantada neste momento, mas ainda estávamos numa sessão mais expositiva.
      O caráter do encontro, no entanto, mudou quando Graça pediu que cada participante escrevesse no caderno uma experiência significativa de sua vida como professor. Após alguns minutos, essas experiências foram divididas com o grupo. Enquanto alguns relatos focavam em experiências em salas de aula e tratavam de métodos de ensino, outros focavam em casos individuais. Para exemplificar, escolhi três relatos que julguei representativos.
      Um dos professores explicou que, durante um ciclo de aulas sobre sistema monetário, pediu que seus alunos fizessem pesquisas de mercado em Itatiaia e Penedo e, a seguir, fizessem cálculos diversos com base em seus resultados. O grupo de alunos encontrou uma diferença marcante entre os municípios, concluindo que o principal motivo seria o turismo de Penedo. Um aluno concluiu, ainda, que a renda mensal de seu pai não seria suficiente para comprar os alimentos necessários para a família. Após esses cálculos, o aluno disse que agora compreendia o motivo pelo qual seu pai estava em dívida. Acredito que esta atividade levou o referido aluno a uma conclusão bastante importante e que pode ter explicado possíveis frustrações pessoais que ele pudesse ter perante o pai ou a família no geral. Tal conclusão pode ter contribuído para a formação social do aluno. Vemos que uma atividade inicialmente relacionada à disciplina de Matemática tratou noções de Economia, através da ideia do turismo, e de Estudos Sociais, ao considerarmos a conclusão do aluno sobre a situação financeira de sua família, tendo, portanto, um cunho interdisciplinar.
      Outro professor relatou uma visita ao Museu Imperial de Petrópolis, na qual seus alunos de quinto ano acompanharam um guia do local. O guia, ao final da visita, disse ter ficado impressionado com os alunos, os quais souberam responder muitas perguntas que ele havia feito. O professor acrescentou, ao fim, que houve informações que o guia passou que não haviam sido discutidas em sala de aula. Podemos perceber, nessa situação, uma variedade de vias percorridas pelo conhecimento: do professor aos alunos, dos alunos ao guia, do guia aos alunos, entre o guia e o professor e, possivelmente, dos alunos para seus pais. Esta atividade contribuiu com a ideia de que o ambiente do aprendizado não se restringe à sala de aula e, dessa forma, reforça a validade dos diferentes conhecimentos e saberes.
      Por fim, um professor relatou que, após passar um exercício de Matemática para sua turma, um dos alunos apresentou uma folha de rascunhos que continha um método de cálculos totalmente diferente do discutido em sala de aula. Como o aluno havia chegado às respostas corretas, o professor pediu, então, que ele explicasse seus cálculos. O professor disse ter ficado positivamente surpreso e que, dali em diante, sempre ensinava ambos os métodos em sala, e que muitas crianças pareciam entender o conteúdo mais facilmente através do método passado pelo aluno. Este relato, além de reforçar a ideia de diferentes conhecimentos e saberes, toca na formação continuada do professor, que pode ser estruturada por diversos agentes e ao longo de toda a sua vida profissional.
      Relatos como esses validam para mim, estudante de Licenciatura, a importância do papel do professor. As experiências aqui mencionadas, as quais denotam múltiplas vias do conhecimento, interdisciplinaridade e formação continuada, corroboram uma noção que aprendi na graduação, de acordo com a qual o professor deve, parcialmente, abrir mão de sua posição de poder frente aos alunos, para que esteja vulnerável às experiências de troca de saberes.





Curso Conversas sobre práticas nas séries iniciais do Ensino Fundamental

Encontros elaborados em forma de rodas de conversas a fim de buscar um repensar de possibilidades de atuação em sala de aula. Através de trocas de experiência e aprofundamento teórico planejados e divididos em módulos, marcaremos a estreita relação entre a teoria e a prática, tão importantes para o cotidiano escolar.
INSCRIÇÕES ENCERRADAS!

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