quinta-feira, 28 de maio de 2015

Itatiaia - Relato de Maria Holanda Ferreira - 27/03/2015


Qual é a história do seu nome? Você já parou para pensar o porquê seus pais lhe deram este nome? Porque todo mundo tem uma história para contar...
Foi primeira atividade proposta pela professora Lucia Fernanda “a professora que conta história” convidada para este segundo encontro com as professoras e os professores do município de Itatiaia. Após ler A semente que veio da África (Heloisa Pires Lima), a professora convidou os participantes a contar a sua própria história.
Luz, Luciana. Árvore, nascimento, vida, Vânia. Rosa, Rosane. Renata, renascer, renascida: o Sol. A maça, o desejo, uma gravidez desejada: Michelle... Helenice. Helena: rainha, Helenice: pequena rainha...  “Não é você que escolhe a história, é a história que te escolhe.”
Mas a Lucia escolheu uma saia e uma história. E depois de contar a sua própria história ela contou a história da menina dos cabelos de fios de ouro, um conto popular retirado de um livro do Câmara Cascudo e que já percorreu a Europa, América Central até chegar ao Brasil. Um conto que se modifica por onde passa, incorporando novos elementos e se transformando através da linguagem contada/narrada.
Logo lembrei da Benedita, a babá. Era uma índia paraense que cuidava dos filhos de minha avó. Mamãe confessou outro dia que até hoje tem pesadelos com as histórias que a Benedita contava. Lembrei disso porque tinha uma história da menina enterrada viva no quintal pela madrasta. Seus cabelos cresciam por debaixo e por cima da terra feito raiz de árvore...
A saia entrou na história da Lúcia e permaneceu em cena, virou personagem e serviu de roupagem para entrar em cena outros personagens desta história que são os professores e as professoras de Itatiaia. Eis aí um momento para entrar na roda, vestir a saia, contar um canto, cantar um conto, declamar um poema ou poesia... Este momento foi de enorme inteiração e descontração entre os participantes. Todos de pé, rodando com a saia, caindo no conto e na gargalhada, havia os que soltavam o gogó. Atirei o pau no gato; batatinha quando nasce; o peito do pé do Pedro; O anel que tu me destes; Sou pequeneninha do tamanho de um botão; Sambalelê ta doente; (...) não sou feita de açúcar (...) posso vento com chuva, posso chuva com vento!
Voltando aos contos, Lucia fala da importância do estudo, da pesquisa das histórias originais antes das adaptações. Que as adaptações recebem novas linguagens, mas é  questão que merece cuidado. Não negar às crianças a história original antes da adaptação. Mais interessante, como a história da menina dos cabelos de fios de ouro que traumatizou minha mãe, é como os contos de fadas originais que contém elementos macabros e tão fascinantes que atrai todo tipo de público, inclusive infantil. Na versão original da Chapeuzinho Vermelho: o lobo que mata, come e bebe o sangue da vovozinha e da Chapeuzinho. Na Cinderela: a madrasta que faz com que as filhas cortem o calcanhar e os dedos dos pés para que possam caber no sapatinho... São histórias originais que as crianças adoram! Além disso, ao apresentar os livros e autores, a professora também incentiva os participantes a convidar as crianças a ouvir as histórias, mesmo quando, por exemplo, a linguagem pode parecer mais difícil com palavras difíceis: a importância de não subestimar as crianças, pois elas gostam das histórias, e das palavras! Conforme a Lucia apresentava os livros, falava sinopses das histórias, algumas mais e outras menos conhecidas os participantes folheavam curiosos e interessados esses livros que passavam de mão em mão: Monteiro Lobato; O Homem que Roubava Horas; Pedro Malasartes; A Panela Mágica; a Árvore que dava dinheiro; Contos populares, Cordel e etc.
A Maior Flor do Mundo, de José Saramago foi passada em filme.
Por fim, a professora Lucia mostrou seus vários objetos que a ajudam a contar histórias. Mostrou com a mesma empolgação que nos mostrou na pousada assim que chegamos em Penedo, onde ficamos hospedadas. Aquelas duas malas que ela carregava e que estavam carregadas de histórias que ela ia tirando da sacola: a saia; a menina dos cabelos de fios de ouro; os vários livros; o sapo, o gato, o apito, a caixa de sapato forrada de chita que vira tela de cinema...
Tantas histórias que presenciei neste dia, que tive o privilégio junto aos participantes deste encontro em Itatiaia, somado a receptividade da Virgínia que nos recebeu tão bem, somado à escola toda linda, a diretora da escola e, diga-se de passagem, à comida da escola tão simples e tão refinada que é o segredo da simplicidade mais, sobretudo, da receptividade das pessoas, do lugar e dos participantes deste curso. Ter conhecido a professora Lucia me garantiu uma aula! Além de boas risadas nesta viagem. Mas me fez lembrar também de minha falecida avó paterna D. Flora, que foi professora primária. Quando já no final da vida, com Alzheimer, permanecia num humor invejável sempre contando histórias... E contava de formas tão incrivelmente criativas que era capaz de repetir a mesma história inúmeras vezes de formas tão diferentes que ainda custávamos alguns segundos a reconhecer que era exatamente a mesma história que ela recontava.
Era filha de italianos imigrantes, adorava cozinhar e tinha um filho (meu pai) que a certa altura da vida entrou na macrobiótica. Fez este poema para minha irmã Ana:
“Com uma florzinha na mão
e a cestinha cheia de amoras
a Ana vai toda feliz
visitar a vovó Flora
A vovó Flora 
que mora
lá no sítio do Embu
quando viu chegar a Ana
correu afogar chuchu
Ela gosta de chuchu
misturado ao arroz feijão
mas limpa o prato de verdade
é quando eu faço macarrão
Porém macarrão, massas e doces
só vou fazer no Natal
pois seu pai é a favor
da comida natural
Ele não quer latarias
massas, doces, nem pão 
Por isso, o cardápio das férias
será abobrinha, arroz e feijão!"

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