quinta-feira, 28 de maio de 2015

Itatiaia - Relato de Franco Biondo - 13/03/2015


     Chegamos a Itatiaia no final da tarde do dia 12 de março de 2015, uma quinta-feira. Fomos recebidos pela administradora da pousada aonde iríamos nos hospedar e, após alguns minutos para nos organizarmos nas instalações, fomos jantar em Penedo com a coordenadora na Secretaria de Educação de Itatiaia, Virgínia, e seu esposo. Foi uma noite prazerosa, pois pudemos conversar sobre assuntos diversos relacionados à Educação num restaurante bastante agradável.
     O dia seguinte seria o dia do trabalho, então acordamos cedo e organizamos tudo para que fôssemos levados para a escola com alguma antecedência. Chegando lá, fomos recebidos por alguns trabalhadores do local e também pela Virgínia, que havia chegado mais cedo. Fomos encaminhados para um auditório, onde a estrutura do encontro já havia sido montada. Enquanto a Graça ia se organizando na mesa da frente, eu me organizava com as câmeras para a filmagem.
     Após esperar os professores chegarem e se acomodarem, iniciamos então as atividades desse primeiro encontro. Distribuímos um caderno para cada professor, que deveria ser utilizado para a escritura de textos referentes aos encontros. Graça se apresentou e falou sobre o projeto, abordando diferentes conceitos, como formação inicial, formação continuada e a construção de diferentes saberes. Os professores interviram algumas vezes, essencialmente para fornecer exemplos reais de suas vidas profissionais para corroborar o que estava sendo discutido. A atmosfera de diálogo teve, então, uma semente inicial já plantada neste momento, mas ainda estávamos numa sessão mais expositiva.
      O caráter do encontro, no entanto, mudou quando Graça pediu que cada participante escrevesse no caderno uma experiência significativa de sua vida como professor. Após alguns minutos, essas experiências foram divididas com o grupo. Enquanto alguns relatos focavam em experiências em salas de aula e tratavam de métodos de ensino, outros focavam em casos individuais. Para exemplificar, escolhi três relatos que julguei representativos.
      Um dos professores explicou que, durante um ciclo de aulas sobre sistema monetário, pediu que seus alunos fizessem pesquisas de mercado em Itatiaia e Penedo e, a seguir, fizessem cálculos diversos com base em seus resultados. O grupo de alunos encontrou uma diferença marcante entre os municípios, concluindo que o principal motivo seria o turismo de Penedo. Um aluno concluiu, ainda, que a renda mensal de seu pai não seria suficiente para comprar os alimentos necessários para a família. Após esses cálculos, o aluno disse que agora compreendia o motivo pelo qual seu pai estava em dívida. Acredito que esta atividade levou o referido aluno a uma conclusão bastante importante e que pode ter explicado possíveis frustrações pessoais que ele pudesse ter perante o pai ou a família no geral. Tal conclusão pode ter contribuído para a formação social do aluno. Vemos que uma atividade inicialmente relacionada à disciplina de Matemática tratou noções de Economia, através da ideia do turismo, e de Estudos Sociais, ao considerarmos a conclusão do aluno sobre a situação financeira de sua família, tendo, portanto, um cunho interdisciplinar.
      Outro professor relatou uma visita ao Museu Imperial de Petrópolis, na qual seus alunos de quinto ano acompanharam um guia do local. O guia, ao final da visita, disse ter ficado impressionado com os alunos, os quais souberam responder muitas perguntas que ele havia feito. O professor acrescentou, ao fim, que houve informações que o guia passou que não haviam sido discutidas em sala de aula. Podemos perceber, nessa situação, uma variedade de vias percorridas pelo conhecimento: do professor aos alunos, dos alunos ao guia, do guia aos alunos, entre o guia e o professor e, possivelmente, dos alunos para seus pais. Esta atividade contribuiu com a ideia de que o ambiente do aprendizado não se restringe à sala de aula e, dessa forma, reforça a validade dos diferentes conhecimentos e saberes.
      Por fim, um professor relatou que, após passar um exercício de Matemática para sua turma, um dos alunos apresentou uma folha de rascunhos que continha um método de cálculos totalmente diferente do discutido em sala de aula. Como o aluno havia chegado às respostas corretas, o professor pediu, então, que ele explicasse seus cálculos. O professor disse ter ficado positivamente surpreso e que, dali em diante, sempre ensinava ambos os métodos em sala, e que muitas crianças pareciam entender o conteúdo mais facilmente através do método passado pelo aluno. Este relato, além de reforçar a ideia de diferentes conhecimentos e saberes, toca na formação continuada do professor, que pode ser estruturada por diversos agentes e ao longo de toda a sua vida profissional.
      Relatos como esses validam para mim, estudante de Licenciatura, a importância do papel do professor. As experiências aqui mencionadas, as quais denotam múltiplas vias do conhecimento, interdisciplinaridade e formação continuada, corroboram uma noção que aprendi na graduação, de acordo com a qual o professor deve, parcialmente, abrir mão de sua posição de poder frente aos alunos, para que esteja vulnerável às experiências de troca de saberes.





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